10/12/2015

Cruzar as pernas faz mal ou não, afinal?

Como se sentar em uma cadeira? Muitas pessoas cruzam uma perna sobre a outra. Nos anos 80, o comediante britânico Kenny Everett até fez do hábito a marca registrada de sua rotina – ele cruzava e descruzava de forma extravagante as pernas enquanto vestido em uma saia e saltos altos.

Outras pessoas não cruzam as pernas e preferem deixá-las espaçadas, o que não é muito confortável para quem está ao lado no transporte público. Eles fazem parte dos que acreditam que cruzar as pernas pode fazer mal – o que, aliás, foi até tema de uma grande campanha publicitária nos Estados Unidos em 1999.
Mas é verdade? A lista de possíveis consequências para longos períodos de pernas cruzadas inclui a possibilidade de aumento da pressão sanguínea, varizes e mesmo danos ao nervos. Mas todos esses itens merecem uma avaliação mais detalhada.

Articulações

É verdade que passar muito tempo na mesma posição fará com que sua perna ou pé fique dormente. Isso porque cruzar as pernas coloca pressão sobe o nervo peroneal, que fica atrás dos joelhos e “anima” a parte inferior das pernas e os pés. Mas mesmo que ocorra o formigamento, ele é apenas temporário.
Manter uma mesma postura por muitas horas, porém, pode levar a uma condição chamada paralisia nervosa peroneal e no chamado “pé caído” - a impossibilidade de levantar a parte frontal do pé e os dedões. Mas um estudo na Coreia do Sul que examinou pacientes não identificou entre as causas do problema o ato de sentar-se em uma cadeira com um joelho sobre outro.
Mas sentar-se no chão com as pernas cruzadas, sim. Na verdade, a dormência prolongada é uma consequência improvável de cruzar as pernas porque tendemos a nos mexer assim que nos sentimos desconfortáveis.
E a pressão sanguínea? Quando vamos ao médico, somos orientados a repousar nosso braço em uma cadeira ou mesa e a descruzar nossas pernas, colocando os dois pés no chão. Isso para evitar que a perna cruzada influencie uma leitura falsa, já que o cruzamento pode elevar a pressão. Uma série de estudos comprovam que cruzar as pernas realmente eleva a pressão, mas um outro mostrou que não há diferença.
Muito desses estudos, porém, foram pequenos e se fiaram apenas em uma medição da pressão. Já pesquisadores na Turquia fizeram um programa de testes em que várias tomadas de pressão foram feitas em pacientes com pernas cruzadas e descruzadas.
Uma vez mais, os maiores valores foram vistos com as pernas cruzadas, mas os resultados de checagens feitas minutos após descruzar as pernas mostraram que a pressão arterial havia voltado ao normal. E que o maior aumento de pressão tinha se registrado entre pessoas que já tinham pressão alta.

'Malhação'

Há duas teorias para explicar o aumento: uma é que cruzar as pernas envia de volta sangue para o peito, resultando em uma maior quantidade de sangue bombeada pelo coração.
A outra é que o aumento ocorre porque o cruzamento resulta em um tipo de exercício isométrico, em que as juntas não se movem, e que aumenta a resistência à passagem do sangue. Isso pode explicar por que cruzar as pernas na altura dos tornozelos não tem o mesmo efeito.
Para tentar encontrar uma explicação, uma outra pesquisa, dessa vez na Holanda, tomou uma série de medidas fisiológicas dos pacientes. Os cientistas descobriram que a resistência nos vasos sanguíneos não aumentou quando batimentos cardíacos eram baixos e as pernas estavam cruzadas, mas que o mesmo não ocorreu com a quantidade de sangue deixando o coração. Isso sugeriu que o aumento na pressão sanguínea se devia ao fato de que o cruzamento de pernas enviava sangue de volta para o coração.
Então, cruzar as pernas parece resultar em um aumento temporário de pressão sanguínea, mas não há evidencias de consequências a longo prazo, com uma única exceção: pessoas com risco de desenvolver coágulos sanguíneos são aconselhadas a não cruzar as pernas por longos períodos porque, para elas, as alterações no fluxo sanguíneo aumentam o risco de trombose.
E o caso das varizes? O problema aqui é que ainda é um mistério a razão pela qual algumas pessoas sofrem de varizes e outras, não.
Pequenas válvulas nos vasos sanguíneos previnem que o sangue flua na direção contrária, mas se essas válvulas são esticadas e enfraquecidas o sangue pode formar “poças”, resultando em veias alargadas.
Ainda não está claro se cruzar as pernas é um fator determinante nesse processo. A formação de varizes ainda parece mais determinada pela genética.
Bem, se veias, pressão sanguínea e nervos não são afetados a longo prazo pelo cruzamento de pernas, qual é o impacto nas juntas?
Um estudo descobriu que pessoas que sentam com as pernas cruzadas mais de três horas por dia tendem mais a se curvar para a frente e forçar os ombros. Mas as pesquisas foram feitas de acordo com as estimativas próprias de quanto tempo as pessoas passavam sentadas.
Estudos mais recentes descobriram que, se pessoas são instruídas a sentar com as costas eretas enquanto cruzam as pernas, os problemas estruturais eram compensados.
Se isso funciona quando não há alguém supervisionando é outra história. A propósito: quase o dobro das pessoas cruzam a perna direita sobre a esquerda em vez da esquerda sobre a direita.
E há quem defenda que cruzar as pernas é uma espécie de malhação. Pesquisadores do University Medical Centre, em Roterdã, descobriram que cruzar as pernas sobre os joelhos aumentou o alongamento do músculo piriforme, o que contribuiu para a estabilidade da região pélvica.
Ou seja: quem cruzar as pernas como Kenny Everett não vai sofrer danos, desde que não permaneça na mesma posição até que as pernas fiquem dormentes. E quem estiver sentado a seu lado no ônibus ou no trem ficará agradecido.


fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151207_vert_future_pernas_cruzadas_fd#orb-banner
foto:http://olhares.sapo.pt/de-perna-cruzada-foto2075960.html

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