20/11/2015

Cresce pressão para que EUA rejeitem refugiados sírios

Uma semana após os atentados que deixaram 129 mortos em Paris e a um ano da eleição presidencial de 2016, os planos do governo americano de receber refugiados sírios vêm enfrentando crescente resistência de políticos de oposição e até do próprio partido do presidente Barack Obama.

Ontem, a Câmara dos Representantes (equivalente à Camara dos Deputados) aprovou por 289 votos a favor e 137 contra um projeto de lei que aumenta exigências no processo de triagem de refugiados da Síria e do Iraque – região controlada pelo grupo extremista autodenominado "Estado Islâmico", que assumiu a autoria dos ataques na França
Caso o projeto seja transformado em lei, esses refugiados só poderão se estabelecer nos Estados Unidos depois que o diretor do FBI, que é a polícia federal dos Estados Unidos, o secretário de Segurança Interna e o diretor de inteligência nacional garantirem que cada um deles não representa ameaça à segurança do país.
Segundo os autores da proposta, que ainda precisa passar pelo Senado, o objetivo é impedir que terroristas cheguem aos Estados Unidos disfarçados entre os 10 mil refugiados que o país pretende receber até outubro do ano que vem.
Suspeita-se que um dos acusados dos ataques em Paris possa ter chegado à França em meio aos milhares de refugiados sírios que buscam abrigo na Europa. Todos os outros acusados identificados até agora, porém, eram cidadãos europeus.
"Este é um momento em que é melhor estar seguro do que se arrepender depois", disse o novo presidente da Câmara, o republicano Paul Ryan.

Veto

Obama, que está em viagem na Ásia, já anunciou que pretende vetar o projeto e ressaltou que o processo de triagem para esses refugiados já é rigoroso, podendo levar até dois anos.
Segundo o presidente americano, não é realista pensar que eles possam representar ameça maior que os turistas que chegam ao país a cada dia.
Nesta semana, antes da aprovação do projeto na Câmara, Obama já havia destacado que esses refugiados estão fugindo dos mesmos militantes contra os quais os Estados Unidos e outros países estão lutando.
"Bater a porta em suas caras seria uma traição aos nossos valores", disse Obama, observando que é possível acolher os refugiados e ao mesmo tempo garantir a segurança do país.
Rejeição
Mas apesar dos esforços da Casa Branca, a lei apresentada por republicanos teve apoio de 47 deputados democratas, o mesmo partido do governo Obama.
A aprovação reflete a crescente rejeição no meio político americano à iniciativa do governo de receber refugiados sírios. Ao longo da semana, 30 dos 50 governadores americanos, a maioria deles republicanos, anunciaram que não permitirão que refugiados sírios se instalem em seus Estados.
Na contramão, o governador do Estado de Washinton, o democrata Jay Inslee, disse que seu Estado está aberto aos refugiados.
O debate também vem dominando a campanha presidencial desde os ataques em Paris. Todos os pré-candidatos que disputam a indicação do Partido Republicano se manifestaram contra o recebimento de refugiados sírios.
Alguns, como o ex-governador da Flórida Jeb Bush e o senador texano Ted Cruz, sugeriram que o país aceitasse somente refugiados sírios cristãos, mas não muçulmanos.
Uma pesquisa de opinião conduzida pela empresa Selzer & Company a pedido da Bloomberg e divulgada na quarta-feira revela que 53% são contra o plano de Obama de receber mais refugiados sírios.
Outros 11% apóiam a chegada de refugiados sírios cristãos, mas não de muçulmanos. Somente 28% são favoráveis ao plano atual, sem alterações.
Processo rigoroso
Dos mais de 4 milhões de sírios que fugiram de seu país desde o início da guerra, em 2011, somente pouco mais de 2 mil foram recebidos pelos Estados Unidos. Destes, metade são crianças e um quarto são pessoas com mais de 60 anos de idade. Apenas 2% são homens solteiros em idade de combate.
O plano da Casa Branca é receber mais 10 mil refugiados da região ao longo do próximo ano. Em comparação, a Alemanha espera receber 800 mil.
De acordo com o governo americano, o processo de triagem de refugiados sírios é um dos mais rigorosos nos Estados Unidos e leva entre 18 meses e dois anos. Metade dos candidatos tem seu pedido negado.
Após passarem por triagem inicial do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), para ver se preenchem a definição legal de refugiado, os candidatos são enviados a um terceiro país, como Turquia ou Jordânia, enquanto aguardam seu processo.
Eles só entram nos Estados Unidos após completarem todas as etapas terem sido formalmente aceitos.
Checagem
Entre estas fases, estão coleta e checagem de informações biométrica e biográficas e entrevistas pessoais conduzidas por especialistas em imigração do Departamento de Segurança Interna.
Todas as informações são verificadas em comparação a bancos de dados de órgãos de segurança americanos, como o FBI e o Departamento de Defesa, e internacionais, como a Interpol.
Os candidatos também passam por exames médicos e recebem orientações culturais sobre os Estados Unidos. Na chegada ao país, são submetidos a uma última etapa, na área de imigração do aeroporto.
O governo e outros defensores do programa afirmam que é pouco provável que terroristas escolham passar por esse processo longo e exaustivo em vez de recorrer a alternativas mais fáceis, como entrar no país com visto de turista.
"Não apóio interromper o programa de refugiados", disse o deputado democrata Adam Schiff, ao afirmar que as novas regras previstas no projeto de lei resultariam na interrupção do programa.
"É um processo rigoroso de mais de um ano e muito mais intensivo do que qualquer coisa que vemos com pessoas vindo da Europa sem necessidade de visto."

Reportagem de Alessandra Corrêa
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151119_pressao_eua_refugiados_ac_rb#orb-banner
foto:http://inversocontraditorio.blogspot.com.br/

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