17/05/2015

Milhares de asiáticos à deriva podem morrer nos próximos dias


As viagens das balsas lotadas de refugiados de Myanmar e Bangladesh para o Sudeste Asiático estão se tornando cada vez mais dramáticas. Na sexta-feira, quase 1.000 migrantes chegaram a Aceh, na costa norte da ilha indonésia de Sumatra. Amontoados em um desses navios de madeira, já semi-naufragado, viajavam mais de 700 pessoas, entre elas mais de 60 crianças. Foram resgatados por pescadores da região.
Milhares de outros não tiveram a mesma sorte. Desnutridos e esgotados após dias abandonados no mar, são impedidos pelas autoridades de chegar às costas da Malásia, Indonésia e Tailândia e acabam sendo devolvidos ao mar, abandonados à própria sorte.
“A situação é gravíssima”, afirmou o representante em Bangcoc da Organização Internacional para a Migração (OIM), Joe Lowry. “Não têm água nem comida e estão bebendo a própria urina. É um jogo de pingue-pongue marítimo com vidas humanas. Esperamos que os Governos na região cheguem rapidamente a uma solução... Ou encontraremos nos próximos dias navios e mais navios cheios de corpos ressecados flutuando no mar do Andaman”, afirmou ele à agência Reuters.
Milhares desses refugiados, segundo cálculos da ONU, estão a caminho, abandonados à própria sorte no mar de Andaman. Alguns procedem de Bangladesh e fogem da pobreza no seu país. Mas a maioria é composta por refugiados rohingyas, uma minoria étnica muçulmana que sofre perseguições em Myanmar (antiga Birmânia). O Governo de Myanmar, um país de maioria budista, nega-lhes a cidadania e os direitos de possuírem terras e terem filhos livremente. Considera-nos como imigrantes bengaleses ilegais, embora estejam radicados há várias gerações no país.
Anualmente, milhares deles fogem das perseguições e da violência, que se agravaram nos últimos três anos. Segundo cálculos da ONU, nos três primeiros meses deste ano quase 25.000 rohingyas lançaram-se ao mar. Muitos ficaram à deriva por causa da campanha contra os traficantes de pessoas lançada há duas semanas pela Tailândia, onde os contrabandistas de pessoas agora não se atrevem a atracar com sua carga humana.
Mas por enquanto os Governos dos países da região não dão indícios de que irão ceder. Tampouco de que desejam organizar uma gestão comum para o problema, como vem acontecendo ultimamente com a onda de migrantes africanos e árabes no Mediterrâneo.
A Indonésia já devolveu vários navios ao mar nos últimos dias, e a Malásia age assim também. O primeiro-ministro malásio, Najib Rezak, emitiu nota manifestando sua “preocupação” com o problema e prometendo empreender as “ações necessárias para lidar com esta crise humanitária”, mas não deu detalhes.
Já o primeiro-ministro tailandês, general Prayuth Chan Ocha, cujo país convocou uma cúpula regional para discutir a crise em 29 de maio, afirmou à imprensa: “Há muitos deles, não podemos cuidar adequadamente. Onde os colocamos?”. Também observou que, se muitos migrantes chegarem no futuro, isso poderia “eliminar empregos e acabar com o modo de vida dos tailandeses”.
As autoridades birmanas demonstraram insatisfação com a iniciativa tailandesa. “É improvável que compareçamos [à cúpula]... Não a aceitamos se eles [Tailândia] estiverem nos convidando só para aliviar a pressão que enfrentam”, disse o chefe de gabinete da presidência, Zaw Htay, à agência France Presse.
“O Governo birmanês criou esta crise ao perseguir continuadamente os rohingyas”, afirma Phil Robertson, subdiretor da ONG Human Rights Watch para a Ásia. “Tailândia, Malásia e Indonésia pioraram muito as coisas com políticas cruéis… Outros Governos devem instá-los a colaborar para que resgatem essa gente desesperada e lhe ofereçam ajuda humanitária e assistência para processar suas solicitações.”

Uma das minorias mais perseguidas no mundo

Quem são?

A minoria rohingya, que segue a religião muçulmana e vive em Myanmar, compõe-se de 1,3 milhão de pessoas. Muitos habitam campos nos subúrbios de Sittwe, a capital do Estado de Rakhine, no leste do país, que faz fronteira com Bangladesh. Desde os graves distúrbios religiosos de 2012, a ONU considera os rohingyas como uma das minorias mais perseguidas do mundo.

Por que são perseguidos?

Em Myanmar, esse grupo vive sob condições miseráveis, sem o direito de possuir terras e sendo submetidos a explorações e restrições de movimentos. O Governo de Naypyidaw lhes nega o direito à cidadania, por considerá-los imigrantes bengaleses ilegais, apesar de suas famílias viverem em Myanmar, um país de maioria budista, há várias gerações.

Quantos já fugiram de Myanmar?

Nos últimos três anos, multiplicaram-se os ataques contra eles, resultando na morte de 280 pessoas e deixando quase 140.000 desabrigadas, segundo cálculos de organizações de direitos humanos. A ONG Projeto Arakan, que há mais de uma década monitora o fluxo de imigrantes rohingyas na baía de Bengala, estima que desde 2012 mais de 100.000 rohingyas abandonaram Myanmar.

Quais são suas aspirações?

O sonho da grande maioria é poder fugir para a prosperidade da Malásia, um país também de religião muçulmana. Até agora, o caminho mais habitual para isso era via Tailândia.

Reportagem de Macarena Vidal Liy
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/15/internacional/1431696454_569942.html
foto:http://www.publico.pt/mundo/noticia/os-refugiados-que-ninguem-quer-a-deriva-no-mar-1695645

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