Apesar da situação crítica dos mananciais, a estatal garantiu descontos para empresas em 42 novos contratos em 2014. O consumo é o equivalente ao gasto mensal de 115.000 famílias.
A companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) forneceu a este jornal, por meio da Lei de Acesso à Informação, a lista completa dos seus clientes fidelizados, aqueles que pagam menos quanto mais água consomem. A relação contêm 537 nomes de indústrias, condomínios comerciais, grandes hotéis como o Meliá, hospitais, redes de alimentação como o McDonald's e shoppings, como o Cidade Jardim. Todos eles consomem cerca do 3% do volume de água faturado e beneficiam-se de descontos de até 75% na conta de água e esgoto. As tarifas aplicadas aos clientes premium seguem a lógica contrária à aplicada ao resto de consumidores cuja conta aumenta conforme cresce seu consumo. Em alguns casos, o preço pago por estas empresas por cada litro de água é menor que o cobrado a clientes residenciais e em todos eles a tarifa é inferior à aplicada a clientes comerciais e industriais que pagam até 13,97 reais por cada metro cúbico. A Sabesp não informou o volume consumido por todos eles nem a tarifa cobrada, mas se comprometeu a divulgar no seu site, nas próximas horas, os próprios contratos assinados com estes clientes. A companhia afirma que só ocultará aqueles dados protegidos por cláusulas de confidencialidade.
Entre esses clientes há 42 que assinaram seus contratos em 2014, quando a escassez de água já ameaçava com deixar São Paulo em uma situação delicada. Juntos, eles gastam 1,8 bilhão de litros – o equivalente à água utilizada por mais 115.000 famílias de quatro membros – e foram os maiores responsáveis pelo aumento de 5,4% no consumo anual de água reservado a empresas com esses grandes descontos, conforme revelou a Agência Pública na semana passada. A companhia afirma que alguns desses novos contratos referem-se a renovações, mas assegura que não vai assinar novos contratos até os mananciais se recuperarem. Em breve, porém, essa lista somará cerca de 20 novos clientes do município de Diadema, onde a Sabesp começou a prestar serviço no ano passado.
Apesar da opinião de vários especialistas, que reivindicam que o preço da água em plena crise hídrica deve ser igual para todos, ou do posicionamento do próprio ex-presidente da Sabesp e pai destes contratos, Gesner Oliveira, que defendeu revê-los, a estatal não cogita suspender este programa de fidelização. A companhia argumenta que estes clientes acabam subsidiando as tarifas residenciais e que um aumento do preço poderia promover um êxodo de vários clientes para fora de São Paulo.
Os principais clientes premium da Sabesp são condomínios comerciais (19,31%), seguidos de comércios varejistas (13,75%) e a indústria farmacêutica (7,42%). Com percentuais mais discretos aparecem hospitais (6,85%), a indústria automotiva (6,57%) e a categoria de alojamento e alimentação, onde encaixam hotéis e indústrias alimentistas (5,26%). A maior parte dos clientes (40,84), porém, está diversificada e classificada na categoria "outros". Nela entrariam empresas de comunicação, igrejas, bancos, escolas e fábricas.
A procura por outras fontes de água, a redução de pressão – que também afeta estes clientes – e a diminuição do consumo teriam significado 26% na economia de água, diminuição equivalente à atribuída aos clientes residenciais.
A campeã na redução de consumo é a indústria automotiva, que sofre uma das piores crises dos últimos anos. Os fabricantes de carros reduziram 64% seus consumo, mesmo porque sua demanda por água potável no processo produtivo não é tão necessária como no caso das indústrias farmacêuticas que, 100% dependentes da água da Sabesp, reduziram seu consumo apenas 18%. Na fila dos poupadores: os condomínios comerciais, onde estão incluídos os shoppings.
Mais transparência
A divulgação da lista é um raro exercício de transparência na estatal, pois durante vários meses a Sabesp negou-se a divulgar informações sobre seus clientes. A negativa chegou até a Corregedoria Geral da Administração que manifestou-se a favor da divulgação das informações após um recurso interposto pela Agência Pública. À pressão do corregedor, Gustavo Ungaro, somou-se a chegada de uma nova diretora de comunicação, Salete Cangussu, muito próxima do presidente Jerson Kelman e partidária de maior transparência.
Os contratos de fidelização entraram na pauta da crise hídrica após EL PAÍS publicar uma primeira lista com 294 nomes e suas respectivas tarifas. Movimentos sociais, entre eles o dos Trabalhadores sem Teto que reuniu 10.000 pessoas contra a falta de água há duas semanas, começaram a incluir entre suas exigências a divulgação e suspensão destes contratos.
Veja a lista completa dos clientes privilegiados da Sabesp
Reportagem de María Martín
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/03/10/politica/1425990397_113643.html
foto:http://www.sidneyrezende.com/noticia/239396+sabesp+presidente+admite+que+populacao+deveria+ter+sido+avisada+sobre+crise+hidrica
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