15/11/2014

Crise da Petrobras se aprofunda e atinge alto escalão de empreiteiras

A nova fase da Operação Lava-Jato, realizada pela Policia Federal, trouxe grandes empreiteiras brasileiras para o centro do escândalo de corrupção na Petrobras.
A Polícia Federal começou a cumprir na manhã desta sexta-feira o que deve ser um total de 85 mandados de prisão e de busca e apreensão em cinco Estados brasileiros, mais o Distrito Federal. Trata-se da sétima etapa da Operação Lava-Jato, que investiga o desvio de recursos da Petrobras para partidos políticos.
Dessa vez, porém, o foco da operação são as empresas suspeitas de terem participado do esquema e que, segundo a PF, teriam contratos com a estatal no valor de R$ 59 bilhões.
Em nota pela manhã, a PF disse que "entre os mandados de busca, 11 estão sendo cumpridos em grandes empresas". Mais tarde, em uma entrevista coletiva, foi dito que haveria "provas robustas" contra sete empresas.
"Essas setes empresas são aquelas para as quais o material apreendido, as diligências realizadas nesses oito meses (de operação Lava-Jato), as quebras de sigilo, os depoimentos colhidos dão um material robusto para demonstrar o envolvimento delas na formação de cartel em licitações e também no desvio de recursos para corrupção de agentes públicos", disse o investigador da PF Igor Romário.
Foram detidas até momento 18 pessoas, entre elas o ex-diretor de serviços da Petrobras, Renato Duque, segundo informações de jornais brasileiros. O canal de notícias Globonews divulgou que, entre aos presos, estariam funcionários e executivos de alto escalão das empreiteiras Camargo Correa, Mendes Júnior, OAS, Engevix, Queiroz Galvão, Iesa e UTC.
Outros 9 mandatos de prisão teriam sido emitidos, segundo a PF. A Justiça também teria autorizado o bloqueio de R$ 720 milhões em ativos de 36 pessoas investigadas no esquema. A Odebrecht confirmou em nota que houve um mandato de busca e apreensão para o escritório da empresa no Rio de Janeiro.
É a primeira vez que um número tão grande de empreiteiras brasileiras é alvo de uma operação de busca e apreensão ou tem seus executivos detidos como parte de investigações de um caso de corrupção.
Entre as investigadas estariam algumas das principais doadoras de campanhas. "Essa é uma bomba, um caso que pode forçar uma redefinição no que é hoje um padrão de relacionamento nem sempre lícito entre empresas privadas, políticos e estatais no Brasil", diz Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE).

Balanço

Na noite da última quinta-feira, a Petrobras também anunciou que não divulgaria o balanço relativo ao terceiro trimestre deste ano no prazo estabelecido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em função das investigações.
As ações da empresa chegaram a cair mais de 5% nesta sexta-feira. Para especialistas, as novas prisões e o adiamento da divulgação do balanço levam a crise da Petrobras a um novo patamar, mais grave.
"Uma coisa é um gestor agir de má-fé, tomando decisões viciadas para atender a interesses escusos. Outra coisa é um descumprimento sistêmico dos princípios que devem pautar a gestão dos negócios da empresa", diz Ildo Sauer, que foi diretor da Petrobras no governo Lula e hoje é diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo.
"Ainda precisamos esperar os resultados da investigação, mas, de fato, já há alguns indícios de que podemos estar nos deparando com esse segundo caso."
Pires, do CBIE, concorda. "O fato de eles não terem divulgado o balanço vai comprometer o pagamento de dividendos para acionistas, por exemplo, e as ações na empresa devem cair", diz Pires.
"Aparentemente, havia um grande esquema (de corrupção) dentro da empresa. Como a Petrobras tem capital aberto, a conclusão é que o dinheiro dos acionistas minoritários pode ter sido usado para financiar partidos e o enriquecimento ilícito de alguns indivíduos."
De acordo com a Agência Estado, o resultado da Petrobras para o terceiro trimestre não foi divulgado porque a auditoria externa da empresa, PricewaterhouseCoopers, teria se recusado a referendá-lo.
Na quinta-feira, a empresa disse que o balanço seria divulgado só em dezembro - e ainda sem a assinatura da auditoria.
"A Petrobras passa por um momento único em sua história, em face das denúncias e investigações decorrentes da "Operação Lava Jato" (...) na qual o ex-diretor de abastecimento da companhia, Paulo Roberto Costa, foi denunciado pelos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa(...)", diz o comunicado da empresa.
"Em decorrência do tempo necessário para se obter maior aprofundamento nas investigações em curso pelos escritórios contratados, proceder aos possíveis ajustes nas demonstrações contábeis (...); e avaliar a necessidade de melhorias nos controles internos, a Companhia não está pronta para divulgar as demonstrações contábeis referentes ao terceiro trimestre nesta data", conclui.
Segundo Pires, a não divulgação do balanço deve dificultar ainda mais o acesso da empresa a crédito. "Isso é algo muito grave, que nunca havia acontecido na história da companhia, e pode comprometer suas atividades e capacidade de investimento."
A operação Lava-Jato começou em março. Costa foi preso juntamente com o doleiro Alberto Yousseff - que seria responsável por "lavar" no exterior os recursos desviados da empresa.

fonte:http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/11/141113_petrobras_ru#orb-banner
foto:http://rayviolet2.blogspot.com.br/2014/11/petrobras-investigacao-nos-eua-ameaca.html

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