18/10/2014

Síntese da conjuntura: Por que a economia brasileira parou de crescer

Pode-se alinhar pelo menos sete causas básicas para explicar a atual estagnação da economia brasileira:
1ª) A baixa taxa carga investimentos, que mal chega a 18% do PIB.
2ª) A sobrecarga da carga tributária, sobre o setor privado, reduzindo seus recursos para investir.
3ª) Insegurança jurídica e os desvios da administração pública, minando a confiança do empresariado, que teme pelo futuro e não se anima a investir.
4ª) O modelo econômico do Governo de priorização do consumo, não tem sobra orçamentária para investir.
5ª) A política monetária desconexa, em que o Banco Central pratica uma política de contenção do crédito e, de outro lado, o Governo expande sem critério os empréstimos dos bancos públicos.
Por outro lado, o BC adota uma política de altos juros básicos (Selic), sobrecarregando o custo da dívida pública, agravando o déficit fiscal e gerando permanente pressão inflacionária.
6ª) A política fiscal também desconexa, em que o Governo gasta mais do que arrecada e não tem freio para o endividamento.
7ª) A política cambial não inspira confiança, ora utilizando a taxa de câmbio valorizada para controlar a inflação, ora empenhando-se o BC em operações de derivativos na Bolsa de Futuros, com vistas a promover hedge cambial que reduza para os investidores os riscos da operação cambial.
PIB – DEVAGAR QUASE PARANDO
Uma das demonstrações mais claras da teoria econômica é a de que sem investimentos não há crescimento. Lógico. Na medida em que o PIB cresce, uma parte vai para consumo, outra para investimento. Se for tudo para consumo, a economia para de crescer. Em termos de Renda Nacional, a distribuição de faz entre salários, lucros e tributos, ou seja, entre os trabalhadores, as empresas e o Governo.
Se todo o aumento ou a maior parte for para os salários ou para os tributos (expansão da carga tributária), cai a participação dos lucros, caem as poupanças e os investimentos. Lógico.
É importante constatar como, nos últimos anos, vêm caindo as poupanças e investimentos. Poupança: em 2000, 6,9%; em 2010, 28,3%; em 2014 E -5,0%. Investimentos; em 2000, 5,0-%, em 2010, 21,3% e em 2014 E, -5,0%.
Essa evolução da poupança e dos investimentos se reflete na expansão do PIB: em 2000, 4,3%, em 2010, 7,5%; e em 2014 E, ZERO.
A LEI DA OFERTA E PROCURA
De um modo geral, a complexa Ciência Econômica de hoje, com toas as suas equações matemáticas, tão ao gosto dos econometristas, tem uma base sólida e um ponto de partida lógico na simplória Lei da Oferta e Procura. Ali se aprende que quanto maior a demanda, mais altos os preços, quanto maior a oferta, mais baixos os preços. Em outro sentido, quanto mais altos os preços, menor a procura, ou mais altos preços maior oferta.
Essa simplificação nos leva ao entendimento econômico do comportamento dos principais mercados, na determinação dos preços básicos. O salário é o preço que resulta da oferta e procura da mão de obra; a taxa de juros é o preço resultante da oferta e procura de fundos; a taxa de câmbio é o preço que decorre da oferta e procura de divisas estrangeiras; o tributo é o preço que se paga pela menor ou maior presença do Estado na comunidade. Além de outros.
ATIVIDADES ECONÔMICAS
Os analistas de mercado continuam prevendo uma expansão do PIB 2014 próxima de zero, ou seja, 0,28% (13/10). As estimativas estão em queda há 19 previsões seguidas. Houve uma ligeira melhoria (0,24% anterior), face à pequena recuperação da produção industrial, que cresceu 0,7% em julho e 0,7% em agosto.
Os projetos de novos investimentos estrangeiros estão em queda (Sobeet). Em 2011, foram anunciados US$163,6 bilhões em novos projetos, que caíram para US$65,3 bilhões em 2012 e US$ 62,6 bilhões em 2013. Neste ano, os anúncios somaram US$ 26,2 bilhões até junho, cerca de US$50 bilhões a mais, se o desempenho na segunda metade do ano repetir os primeiros seis meses de 2014 (MDIC).
Segundo a FGV, a economia brasileira cresceu 0,79% em agosto, mas acumula queda de -0,64% no período de junho/agosto, ou -0,5% se comparada com o mesmo período de 2013. A maior retração vem das indústrias de construção e de transformação. O PIB agropecuário cresceu 2,7%.
A inadimplência do consumidor recuou -0,2% em agosto e -0,8% em setembro sobre o mês anterior (Serasa). Em São Paulo, o volume de famílias endividadas recuou de 49,4% em agosto para 47,8% em setembro, com 11,7% em atraso e 4,1% sem condições de pagar.
A confiança do empresário industrial (ICEI) caiu 0,7 ponto em outubro, pelo sétimo mês consecutivo.
O fantasma de uma grande crise de água no Sudeste, especialmente em São Paulo, criou um ambiente de forte pessimismo. O nível crítico do Sistema Cantareira caiu para 4,7% em 13/10, recorde de baixa histórica. Não há previsão de chuvas na região, nos próximos dez dias, e a falta de água já atinge todas as regiões de São Paulo.
Segundo o SPC/CNDL, a inadimplência que havia crescido 5,1% em agosto teve ligeira desaceleração em setembro, com alta de 3,8%. Há 54 milhões de consumidores com contas atrasadas. Pesquisa da Serasa indica aumento dos pedidos de falência e recuperação judicial no período de janeiro-setembro, de 1.263 em 2013 para 1.326 em 2014, com redução no setor industrial (de 509 para 468).
Para estimular o consumo e a atividade econômica, o Governo aumentou em três anos o prazo para pagamento dos empréstimos consignados por servidores públicos.
Indústria
Basicamente, desde 2013, a indústria vem em processo de declínio: em agosto de 2014, a produção industrial estava 7% abaixo de junho de 2008. O problema é essencialmente estrutural, representado pela baixa competitividade do setor, hoje sem condições de competir no mercado mundial e, também, de concorrer com as importações da indústria estrangeira.
Segundo o IBGE, em agosto, a indústria cresceu 0,7% frente a julho, mas nos oito primeiros meses registrou queda de -3,1%; na raiz desse fato, está a falta de investimentos, como se vê pela queda de 8,8% na produção de máquinas e equipamentos. Nos últimos 12 meses, houve queda de 2,3% na indústria de transformação, principalmente na produção de bens de consumo, duráveis e não duráveis. A exceção é a indústria extrativa, com alta de 2,7%, apoiada nas exportações para a China, como vem ocorrendo há vários anos.
No mercado imobiliário, após forte expansão, estamos entrando em um período de desaceleração, com excesso de oferta principalmente no setor de lojas e escritórios.
A produção da indústria automobilística cresceu 5,6% de julho a setembro, ante o 2º trimestre, mas registrou forte queda de 16,8% frente ao 3º trimestre/2013. As vendas subiram 1,6% no 2º trimestre, mas acumularam queda de 12%, assim como redução de 38,5% em exportações, principalmente para a Argentina. Houve queda de 3,03% na produção de caminhões e de 8,9% em ônibus. A BMW inaugurou fábrica nova em Santa Catarina.
A produção de eletroeletrônicos diminuiu 8,9% em agosto sobre agosto/13, acumulando no ano queda de 1,6%.
Comércio
As vendas do comércio varejista registraram alta de 1,1% em agosto sobre julho e recuo de 1,1% sobre agosto/13, praticamente a primeira alta desde fevereiro/14 (IBGE). Destaques de alta: material de escritório (+7,5%) e tecidos,  vestuário e calçados (+3,2%). Os supermercados registraram queda de 0,1%. Regionalmente, subiram mais as vendas no Nordeste (+2,2%), com destaque para Ceará (+4,7%) e Rondônia (+4,6%).
Segundo a Serasa, o setor varejista de tecidos, vestuário e calçados avançou 0,9% em setembro, acumulando no ano +0,7%. Em julho, as vendas do varejo em São Paulo tiveram queda de 7,8% sobre julho/13, a 5ª queda consecutiva. No acumulado até julho, houve queda de 1,2% (Fecomércio-SP).
As famílias brasileiras devem comprar menos em outubro, segundo a CNC, o ICF teve queda de 0,4% ante setembro e de 3,8% comparado com outubro/13. Segundo pesquisa da PROVAR, a perspectiva de consumo de bens duráveis, no último trimestre, é a pior em 8 anos, o que indica um Natal fraco.
A CNC estima que o varejo feche o ano com alta de 3,5% mas, agregando-se ao comércio automotivo e materiais de construção, a expectativa é de zero de crescimento (+0,1%)
A receita serviços vem caindo e no 2º trimestre, ante o primeiro, houve queda de 0,5%.
Segundo a CNC, o índice de confiança do comércio (Icec) subiu 2% em agosto, mas caiu 0,7% em setembro. Para 62,4% dos empresários entrevistados, a situação do comércio é pior do que há um ano. A projeção para 2014 é de expansão de 4,0%.
Agricultura
Apesar da queda dos preços, a área plantada com os principais grãos para a safra 2014/15 deverá ficar entre 56 e 58 milhões de hectares, capaz de produzir uma safra de 194 milhões de tons. a 201 milhões. As vendas de pequenos tratores continuam em expansão.
A baixa precipitação nas cabeceiras do Rio São Francisco provocou o seu assoreamento e a diminuição do fluxo de água, para garantir o suprimento das seis hidrelétricas ao longo do rio. Isto paralisou o transporte de grãos pela hidrovia.
Segundo a FAO, o índice de preços dos alimentos subiu no início do ano, até março (+5%), mas iniciou uma curva de quedas a partir de abril (-10,5%).
Mercado de Trabalho
O mercado de trabalho criou 123,8 mil vagas com carteira assinada, em setembro, segundo o CAGED, acumulando em nove meses a abertura de 730.124 mil postos, 30% a menos do que em igual período de 2013. De janeiro a setembro, os salários médios registraram alta de 1,26%, em termos reais. Pelo quinto mês consecutivo, o emprego na indústria teve queda de 0,4% em agosto frente a julho, recuando 2,9% em cinco meses. É o pior resultado desde a crise de 2009. Em São Paulo, o emprego com carteira assinada cresceu 0,5% no 2º trimestre, ante o primeiro.
A indústria paulista demitiu 15 mil, em agosto, acumulando queda de 1,2% em oito meses.
Segundo o analista José Pastore, “vemos com tristeza uma elevação de desocupação neste final do ano e ao longo de 2015”.
Setor Financeiro
O mercado de capitais atravessa fase de forte especulação derivada da campanha eleitoral. No dia 6/10, a Bovespa subiu +4,72%, no dia 10/10, caiu -3,42%, no dia 13/10, subiu +4,78% e no dia 15/10, caiu -3,24%.
Em setembro, as cadernetas de poupança captaram R$1,37 bilhão, o menor nível desde 2005. No acumulado do ano, chega a R$15,5 bilhões, queda de 70% em relação ao mesmo período de 2013. Em contrapartida, as empresas brasileiras captaram em setembro R$ 4,7 bilhões, alta de 31,9% sobre agosto. De janeiro a setembro, as emissões de bônus chegaram a US$ 43,1 bilhões, contra US$31,8 bilhões no mesmo período de 2013.
Em outubro, o Governo aumentou o prazo dos empréstimos consignados dos funcionários públicos e dos beneficiários do INSS, mais um forte incentivo ao consumo. Em agosto, o total de financiamentos para veículos aumentou 2,23% ante julho, mas houve queda de -8,6% comparado com agosto/13. O Governo vai renegociar os empréstimos feitos ao BNDES (MP 651), no total de R$ 451 bilhões, para alongar seus prazos de pagamento.
Inflação
A alta de 0,57% no IPCA/IBGE de setembro não muda muito a tendência da inflação que, embora tenha chegado a 6,75% em 12 meses, continua comportada (não controlada) e tende a se beneficiar com a queda nos preços internacionais das principais commodities alimentícias. Segundo a FAO, os preços subiram 5% de setembro/13 a março/14 e, desde então, caíram 10,5%, com destaque para carnes, lácteos, soja, milho, óleos vegetais e açúcar. Também deverá ter significativo impacto sobre a inflação a queda dos preços do petróleo, a partir deste mês de outubro. O Brent de US$ 115 o barril, em 19/6, caiu a US$ 83,8, em 15/10.
No mercado interno, em setembro, as carnes subiram 3,2%, a cebola 10,2%, o leite 1,7%, o feijão 0,9% e a farinha de mandioca 2,5%. O IPC/Fipe registrou alta de 0,32% na 1ª quadrissemana de outubro.
Setor Público
A péssima situação do setor público pode ser resumida no fato real de que no período janeiro-agosto foram economizados (superávit fiscal) apenas R$10,2 bilhões para pagar juros de R$165,3 bilhões. Entre agosto/14 e dezembro/13, a dívida pública aumentou R$86 bilhões. Em contrapartida, a carga tributária não para de crescer. Até quando?
 Na área dos grandes projetos de infraestrutura, permanece um clima de grande confusão. A seca do Rio São Francisco está comprometendo não só a navegação fluvial, mas igualmente o funcionamento de seis hidrelétricas. E a transposição do Rio? A Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, tem sérios problemas de custo e de financiamento. A Hidrelétrica Belo Monte não tem prazo certo para conclusão. A Hidrelétrica de São Manoel não foi licenciada por “falta de consulta aos povos indígenas da região”(!?).
Segundo consta, a proposta do Orçamento da União para 2015 tem um “buraco” de R$ 40 bilhões. Além disso, o Orçamento está baseado em uma projeção do PIB de 3,0%, quando se sabe que o resultado esperado é da ordem de 1%.
Setor Externo
Não são boas as perspectivas do Balanço de Pagamentos em 2014. Segundo a AEB, a soma das exportações e importações deverá ficar 5,5% abaixo do resultado em 2013, que já foi menor do que 2012, também menor do que 2011. No começo de outubro, a saída de dólares superou a entrada em US$ 2,07 bilhões, metade do resultado negativo em 2013.
 A conta de “Transferências Unilaterais” (remessas de emigrantes e imigrantes) registrou um saldo de US$3,4 bilhões, em 2013. Neste ano, até agosto, o saldo caiu para US$963 milhões, com receita de US$2,6 bilhões (-22,1%) e despesas de US$1,7 bilhão (+27,1%). O sensível aumento das remessas se deve à forte imigração de bolivianos, haitianos e africanos.
Fato interessante: Segundo a ESPM, atualmente há mais de 400  empresas brasileiras em 56 países. Em 2010, eram 95.
O FMI publicou recentemente um relatório altamente depreciativo sobre a conjuntura político-econômica do Brasil. Mais um passo falso e desqualificado do FMI. O Governo brasileiro não gostou e, em represália, não compareceu à reunião conjunta FMI/BIRD, em Washington.
No cenário internacional, não são boas as expectativas. Há previsão de um crescimento global de 3,3%, devido basicamente à Índia (+5,6%) e à China (+7,45). Espera-se um crescimento de 2,2% na economia americana e de 0,8% na Zona do euro.
A grande surpresa é a evolução positiva nos Estado Unidos, com taxa de desemprego de 5,9%, a menor desde 2008. Por outro lado, o FED sinaliza que não há prazo para uma política de “endurecimento monetário”.
Na Zona do euro, as vendas no varejo em agosto subiram 1,2%, a maior alta desde 2009. Entretanto, a OCDE vê risco de nova recessão, face à previsão de queda de expansão da Alemanha de 1,8% para 1,2%, face à redução de 5,7% nas encomendas à indústria. Na França, a inflação subiu 0,3% em setembro. Na Inglaterra, subiu 1,2%.
Em Portugal, a situação continua crítica e o braço financeiro do Grupo Espírito Santo declarou falência. A Rússia deve colher, neste ano, safra recorde de cereais, especialmente trigo.
Na China, as exportações tiveram alta de 9,4% em agosto e 15,3% em setembro, mas o superávit comercial encolheu de US$ 49,8 bilhões para 31,0 bilhões. O Japão, segundo o FMI, está próximo de entrar em recessão, face ao peso da dívida pública e ao envelhecimento da população. Cogita-se de aumento de 10% no imposto sobre as vendas.

Reportagem de Ernane Galvêas
fonte:http://www.jb.com.br/economia/noticias/2014/10/16/sintese-da-conjuntura-por-que-a-economia-brasileira-parou-de-crescer/
foto:http://www.alvarodias.com.br/2014/08/economia-brasileira-anda-para-tras-boletim-do-bc-mostra-pibinho-em-queda-livre-e-inflacao-em-alta/

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