02/05/2014

Vem aí uma Flip mais latina

Ares de mudança sopram em Paraty, anunciando boas tempestades literárias do nosso continente no evento que começa em 30 de julho.



Tudo começa com um novo curador, o jornalista Paulo Werneck, de 35 anos, que foi responsável pelo caderno Ilustríssima, do jornal Folha de S. Paulo, até agosto do ano passado - e agora ocupa o lugar que foi de Miguel Conde no último biênio. E passa por um bem-vindo esforço de recuperar certo “tiempo perdido”, sem que nos 11 anos anteriores da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) a literatura latino-americana tenha tido presença expressiva.

A atual edição, que acontecerá entre os dias 30 de julho e 3 de agosto, começou a ser divulgada no começo de abril justamente com esse objetivo: mudar a ideia de que a feira, que se tornou uma das mais importantes da região, não dá bola aos vizinhos. Por essas e pela inegável qualidade de suas obras, o chileno Jorge Edwards, a argentina Graciela Mochkofsky, o mexicano Juan Villoro e o peruano-americano Daniel Alarcón já são nomes confirmados.


Para quem acompanha os rumos da produção literária contemporânea na América Latina, o menu é absolutamente atraente. Mas quem não sabe tanto a respeito ou não se atém a geografias literárias ou utopias regionais, também há muito o que se descobrir e aproveitar.

O veterano do grupo, Jorge Edwards, de 83 anos, é um dos ícones da chamada Geração de 50 chilena, com uma vasta e sólida carreira como escritor de romances e de poesia - ainda que no Brasil tenha só um de seus mais de 20 livros publicados.
É um embaixador chileno (atualmente na França), assim como foi o amigo Pablo Neruda, e pelo livro “Persona non grata” (1973), em que relatou sua experiência como embaixador do governo de Salvador Allende em Cuba durante três meses e meio, fazendo observações pessoais e pouco favoráveis ao regime castrista, é às vezes visto como um “esquerdista de direita”. Quem edita o autor - prêmio Cervantes em 1999 - aqui no país atualmente é a Cosac Naify, que lançou (em pré-venda, por enquanto) “A origem do mundo”, que fala sobre a decadência e o renascimento do amor e do desejo, o fracasso dos sonhos políticos e a ficção como elemento de resistência indispensável à vida.

Já Juan Villoro é provavelmente o escritor de maior destaque no México nos dias atuais. Com mais de 30 títulos publicados, é um autor prolífico e de interesses variados, que usa suas paixões “pop” (rock, futebol, quadrinhos...) como inspiração para uma literatura de qualidade, que ele encaixa nos mais variados gêneros - inclusive no infantil. É jornalista premiado, dono de uma coluna publicada às sextas-feiras no jornal mexicano “Reforma” e colaborador assíduo de revistas de jornalismo narrativo como a colombiana El “malpensante” e a peruana “Etiqueta Negra”.

Por seu romance “El testigo”, recebeu o prêmio Herralde em 2004, e aqui no Brasil é editado pela Companhia das Letras, que já lançou “O livro selvagem” e, para a FLIP, prepara o lançamento de “Arrecife”, sobre a violência no México, vista a partir de um olhar fetichista, explorada em parques turísticos. Outro título seu, “La cancha de los deseos” (“O estádio dos desejos” é o título provisório), que tem a ver com crianças e futebol, será publicado pela Editora Terceiro Nome com tradução de Eric Nepomuceno.

Autora de não ficção, Graciela Mochkofsky é um dos grandes talentos do jornalismo argentino, intensa pesquisadora das relações entre mídia e poder em seu país. Seu livro mais famoso é “Pecado original” (2011), uma reportagem literária sobre a disputa do casal Kirchner e o jornal “Clarín”, expondo interesses políticos e econômicos de ambos os lados. Ainda é autora inédita em português, mas já colaborou algumas vezes com a revista Piauí. É editora da revista online “El puercoespín”.

Finalmente, o peruano Daniel Alarcón, radicado nos Estados Unidos desde os oito anos, é um autor de 37 anos que figura em várias listas de melhores escritores latino-americanos, como a da Granta em espanhol. Escreve em inglês, mas seus temas passam quase sempre pelo Peru de sua infância e também pelas ruas de sua Lima imaginada - como ele mesmo diz. É jornalista, editor associado da revista Etiqueta Negra, colaborador da revista The New Yorker e produtor executivo de uma rádio online que se especializa em crônicas de personagens latino-americanos.
No Brasil, tem publicado pela Rocco o romance “Rádio Cidade Perdida”, em que lança um olhar sobre o terrorismo em uma nação indefinida e conflituosa. Durante a Flip, ele lançará seu trabalho mais recente, “À noite andamos em círculos”, com, novamente, a violência política de pano de fundo, pela Alfaguara.



Reportagem de Camila Moraes
fonte:http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/35084/vem+ai+uma+flip+mais+latina.shtml
foto:http://www.paraty.com.br/flip/noticias_flip.asp?id=4445

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