20/02/2014

Sob pressão externa, governo da Ucrânia anuncia trégua

Após 26 mortes decorrentes dos protestos registrados última na terça-feira, a Ucrânia teve ontem um dia de trégua e promessas de negociação entre governo e oposição.



Sob forte ameaça de retaliações feitas pelo bloco europeu e dos Estados Unidos, o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, anunciou ontem à noite um acordo de "trégua" com líderes da oposição. A decisão foi tomada um dia após a batalha que levou à morte de pelo menos 26 pessoas nas ruas de Kiev, palco de imagens que correram o mundo mostrando um país em chamas. Em declaração em seu site oficial, o presidente informou, além da trégua, o "início de negociações com o objetivo de cessar o derramamento de sangue e estabilizar a situação no país em busca da paz civil". O acordo foi firmado em encontro com os principais líderes de oposição, entre eles o ex-campeão de boxe Vitali Klitschko, líder da oposição e cotado para ser candidato presidencial.
Pouco antes, a União Europeia (UE) e os EUA cobraram do governo da Ucrânia o fim da repressão aos protestos, num claro recado de ameaça a Yanukovich. Uma reunião de emergência foi então convocada pelos membros da UE para as 14h de hoje em Bruxelas. Na pauta do encontro, está a expectativa de discutir a possibilidade de serem aplicadas sanções ao país, como restrições financeiras e negativa de vistos a funcionários do governo. Após encontro ontem entre o chefe do Departamento de Estado americano, John Kerry, e o chanceler francês, Laurent Fabius, os ministros das Relações Exteriores da França, da Alemanha e da França decidiram viajar a Kiev para avaliar a situação.
O presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que haverá "consequências" a quem ultrapassar o que define como "limite". De acordo com Obama, o governo ucraniano é o "principal responsável" pela forma como ocorrem as manifestações, devendo garantir o direito de protestar sem repressão.
Os discursos da UE e dos americanos têm também caráter político no xadrez internacional: posicionarem-se contra o principal aliado do presidente Viktor Yanukovich nesta crise, o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
O estopim para os protestos ocorreu em novembro passado, quando o chefe ucraniano, pressionado pelos russos, recusou-se a assinar um acordo comercial com a UE. A oposição aposta na aproximação com o bloco europeu para tirar a Ucrânia da crise econômica que assola o país e para dar a abertura para o Ocidente, enquanto os aliados do governo alegam que o país depende economicamente da Rússia por causa dos contratos de fornecimento de energia.
O governo russo tem acusado forças ocidentais de estimularem os protestos para tentar derrubar o atual governo. Putin chegou a anunciar recentemente uma ajuda financeira ao país, com a redução do preço do gás repassado a Kiev.
Yanukovich afirmou que os adversários querem dar um golpe em busca do poder pela força, e não por meio de eleições. Anunciou o que define como uma "operação antiterrorista" para prender radicais e ainda trocou o chefe das forças armadas.
As cenas de violência de terça-feira, com os 26 mortos e 600 feridos, ocorreram depois de um clima que era até de negociação. Mas a disputa no parlamento em torno de um projeto que reduz poderes presidenciais e a tentativa da polícia de desmontar um acampamento de manifestantes no centro da capital transformaram as ruas numa praça de guerra.
O presidente da Comissão Europeia, José Durão Barroso, disse não haver "circunstância que legitime" violência.
A imprensa como alvo
A International Partnership Mission, missão de observadores ligada à Associação Mundial de Jornais para assegurar a liberdade de imprensa durante os conflitos na Ucrânia, condenou a violência que vitimou o jornalista Vyacheslav Veremyi, correspondente do canal de TV russo Vesti, e feriu mais 167 profissionais durante os protestos em Kiev.
"Muitos desses jornalistas foram deliberadamente alvejados e nenhum dos casos foi investigado. Esse estado de impunidade é inaceitável e promove mais violência", disse a missão em comunicado.
Atingido por um tiro de arma de fogo, Veremyi morreu em um hospital na capital ucraniana. Ele teria sido arrastado para fora do táxi em que estava retornando para casa, vindo da Praça Independência. O jornalista, segundo testemunhas, foi espancado violentamente e recebeu um tiro no abdômen depois de mostrar sua credencial de imprensa. Somente entre terça-feira e ontem, 27 jornalistas foram feridos durante protestos, a maioria atacada por membros da Berkut, unidade de choque da polícia ucraniana.
A International Partnership Mission também se disse preocupada por tentativas de censura, como o bloqueio do Channel 5, emissora de TV que se opõe ao governo do presidente Viktor Yanukovitch.

fonte:http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2014/02/sob-pressao-externa-governo-da-ucrania-anuncia-tregua-4425313.html
foto:http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/policia-ucraniana-avanca-sobre-protesto-e-revolta-oposicao

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