Morto em 14 de abril de 1972 nas dependências do DOI-Codi de São
Paulo, Rui Oswaldo Pfützenreuter, militante do Partido Operário Revolucionário
Trotskista, tem como causa
mortis em seu atestado de
óbito uma “anemia aguda traumática”. A versão oficial sobre a doença que teria
levado à morte do jornalista e sociólogo formado pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS), no entanto, sempre foi contestada pela família, para
quem os motivos que levaram à anemia nunca foram explicados.
Em audiência na Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens
Paiva”, na segunda-feira 23, Rogério Pfützenreuter pediu que o atestado de óbito
de seu irmão fosse retificado. Ele citou uma carta de seu pai ao presidente
Emílio Garrastazu Médici, escrita em 16 de maio de 1972, na qual questiona as
informações da certidão de óbito. “O
que me causa muita estranheza, Sr. Presidente, é o fato de que o atestado não
explica o motivo que causou a anemia. A isto se juntam os detalhes (manchas
escuras que aparecem na foto)”, escreveu Oswaldo Pfützenreuter sobre a foto
que consta no processo do Supremo Tribunal Militar.
Em outro trecho da carta, Oswaldo Pfützenreuter apontava: “Eu
pergunto: que tipo de tratamento teve meu filho antes de morrer ou, o que é o
mesmo, o que causou concretamente sua morte? Segundo estou informado de maneira
limitada, a imprensa denuncia maus tratos a presos políticos, tenho sérias
dúvidas se meu filho não foi torturado antes de morrer ou se não foi morto
exatamente em conseqüência delas […]”.
Segundo o ex-preso
político Sebastião Neto, a foto mostra marca de esmagamento da cabeça que pode
ter sido provocada por fortes pancadas.
Enquanto o relatório do Ministério da Marinha, entregue ao
ministro da Justiça Maurício Correa em 1993, afirma que o militante “[…] foi
morto em tiroteio com agentes de segurança em 15 de abril de 1972”, o relatório do Ministério da
Aeronáutica informa que“[…] em 15 de abril de 1972, em São Paulo, ao receber
voz de prisão, sacou de sua arma e atirou na equipe de segurança, sendo ferido.
Mesmo assim conseguiu evadir-se, aproveitando a escuridão, porém caiu adiante,
sendo conduzido ao hospital e falecendo no trajeto”.
O presidente da Comissão
da Verdade “Rubens Paiva”, o deputado Adriano Diogo (PT), e assessora Amélia
Teles solicitaram à Defensoria Pública apoio para retificação do atestado de
óbito de Pfützenreuter, assim como de outros 158 militantes desaparecidos
durante a ditadura.
“Há uma pressão da sociedade para que esse ponto dos atestados de
óbito seja acertado. A comissão pede que a causa
mortisseja corrigida e atualizada”, explica Diogo sobre os documentos que
atestam parada cardíaca, anemia, atropelamento ou mesmo suicídio como razão do
óbito. “Reconhecer que esses militantes morreram em virtude de tortura ou em
dependências policias incomoda bastante o Estado. E, na verdade, trata-se de
uma reparação muito pequena diante dessa tragédia.”
Segundo o deputado, dos
159 óbitos que pedirão retificação, 90% foram registrados em um cartório da
Vila Mariana, próximo ao centro de investigação e operações do Exército OBAN
(Operação Bandeirante), na zona sul de São Paulo.
Pfützenreuter foi
enterrado no Cemitério D. Bosco, em Perus, como indigente. Seu pai, Oswaldo,
reuniu esforços e conseguiu levar os restos mortais do filho para o jazigo da
família, em Santa Catarina. A ocultação do corpo contribuiu para que não
houvesse total esclarecimento sobre a morte. A retificação do atestado de óbito
tem como objetivo esclarecer as versões oficiais apresentadas pelo Estado
durante a ditadura.
A previsão é que o prazo
para tramitação dos 159 documentos demore, pelo menos, seis meses.
Reportagem de Marsílea Gombata e Thaís Barreto
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita e pelo comentário!