12/08/2013

A anorexia infantil e as portas de vidro

Em crônica contundente, escritora, artista e fotógrafa norte-americana relata doença da filha e revela como tornou-se onipresente associação insana entre sucesso e corpos “bem-feitos”.
À primeira vista, não seria de ser esperar que isso aconteceria em uma família como a de Kristi Belcamino: desde o dia em que deu à luz a uma menina, a palavra “dieta” foi banida das conversas da casa. Não se assinavam revistas de moda e a televisão era monitorada de perto. Daí se justifica seu espanto ao perceber que sua filha, com apenas nove anos de idade, estava anoréxica, pesando 22 quilos. Em uma crônica contundente para a revista norte-americana Salon, Kristi relata seu choque ao descobrir que a anorexia não respeita as portas nem dos mais conscientes lares.
Em meio ao tratamento da filha, Kristi descobriu que cerca de 10% dos que sofrem de anorexia nos Estados Unidos têm menos de dez anos de idade. Embora fosse constantemente lembrada de que não há um método de criação dos filhos capaz de prevenir a doença, a culpa não a abandonava. O tratamento de quadros anoréxicos é um processo longo e incerto, já que, além das restrições alimentares, as pessoas que sofrem de anorexia, com seu medo mórbido de engordar, não só restringem a ingestão de alimentos, mas fazem uso de medicamentos como laxantes e diurético, induzem o vômito e praticam exercícios físicos vigorosos. Para o alívio de Kristi, sua filha ainda não sabia que era possível vomitar para se livrar da comida, mas tentava queimar calorias em sessões frenéticas de dança irlandesa em seu quarto.
Depois de tratamento intensivo, a filha já está fora de perigo, mas não é possível afirmar que a batalha tenha sido vencida. Por mais surpreendente que possa parecer a ideia de que a anorexia infantil adentra sem pudores um lar como o de Kristi, devemos nos perguntar: seria de se esperar algo diferente em uma sociedade onde o discurso disseminado pela indústria cultural e pela publicidade associa beleza, saúde, sucesso, felicidade e poder à corpos magros? Por que iríamos achar que, ao fechar nossas portas de vidro, tudo ficaria bem?(Reportagem de Maíssa Bakri)

Leia a crônica

My anorexic 9-year-old

By Kristi Belcamino

My 9-year-old daughter was starving herself to death. And somehow, God forgive me, I didn’t notice until it was almost too late.
We were busy running from soccer to swim lessons to play dates. But that’s no excuse. The mere idea of a fourth-grader becoming anorexic was so foreign, so wild and so far-fetched, that it never crossed my mind.
My daughter had always been a picky eater and small for her age — less than six pounds at birth. She didn’t like to eat much, and I didn’t worry about it.
Then one day she asked for help with her sunscreen. She walked up, wearing her purple-and-blue swimsuit, and I squirted a blob of white lotion onto my palms and spread it across her back and shoulders. My fingers felt what had somehow escaped my eyes — pointy bones protruding like little bird wings. Over the bones stretched a thin layer of skin.
What the hell was going on?
Slowly, the pieces fell into place: odd comments over the summer that I had dismissed, thinking if I didn’t make a big deal out of them, they would pass like so many other random fears and concerns that my children had.
Questions, such as:
“Are my legs fat?”
“I feel full.”
“Do you think I’m fat?”
My response? It was so absurd I laughed and told her if anything she probably didn’t eat enough.
I also didn’t pay attention when she lost interest in foods she had once loved. I thought it was just a phase. In her short nine years, my complex daughter had brought up unusual fears and concerns. Usually if I didn’t make a big deal — took it in stride and gave her a little reassurance — it went away.
This time, it didn’t.
When the scale showed she was only 50 pounds — seven pounds less than she’d been during a visit only a few months before — her pediatrician referred us to a children’s hospital. There, they diagnosed her as malnourished and suffering from an eating disorder.
My husband and I were stunned — and a little suspicious. She was only in fourth grade, for crying out loud. Didn’t this only happen to teenage girls?
But the American Academy of Pediatrics says the prevalence of eating disorders in children and teens is increasing. Although it’s still not a large number, the Alliance for Eating Disorders Awareness says 10 percent of those suffering from an eating disorder are 10 or younger. (And boys aren’t immune. Up to 15 percent of those suffering an eating disorder are male.) Our doctor has treated a girl as young as 7.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita e pelo comentário!