Caso de paquistanesa baleada na cabeça mostra
perigos da violência; crianças são forçadas a deixar casas, abandonam a escola
e são recrutadas para ataques suicidas.
A
tentativa do Taleban de assassinar a militante adolescente pró-educação Malala Yousafzai (foto acima) no
início do mês ilustra os perigos que o conflito representa para as crianças do
país. Milhares de crianças e suas famílias foram forçadas a abandonar áreas do
chamado "cinturão tribal" do Paquistão, na fronteira com o
Afeganistão, onde estão os santuários do grupo radical. Muitas também ficaram
sem acesso à educação como consequência de uma persistente campanha, por militantes
do Taleban, contra o ensino não religioso.
Desde 2006, essa investida dos militantes já levou à destruição
de quase mil escolas.
Anos de operações militares nessas áreas resultaram em mais
destruição. Mesmo as regiões de onde os militantes foram expulsos não estão
completamente seguras sob o controle de governos civis.
Muitos santuários importantes ainda persistem, especialmente no
Waziristão do Norte, partes do Waziristão do Sul, e as regiões de Orakzai e
Khyber. A partir desses santuários, os homens do Taleban organizam ataques
contra os militares paquistaneses e alvos civis no coração do país, rompendo
cordões de segurança e criando uma sensação permanente de insegurança.
Malala criticava abertamente a oposição do Taleban à educação de
meninas. E por ser apenas uma menina, nunca acreditou que eles a veriam como
uma ameaça real. O caso de Malala é diferente porque, embora não seja a única
vítima infantil desse conflito, talvez tenha sido a única a ser alvo de um
ataque motivado por suas opiniões.
Aviões
não tripulados
Também há relatos constantes de crianças sendo mortas em ataques
por drones, aviões não tripulados, nas regiões mais tribais do Paquistão. Os
ataques são parte de uma campanha persistente dos EUA contra militantes em
santuários tribais no noroeste do país, onde se acredita que o Taleban mantenha
algumas de suas bases.
A mídia não tem acesso livre a essas áreas mas, em novembro de
2011, a ONG britânica Reprieve organizou uma viagem de vários membros de tribos
da região para a capital, Islamabad, para protestar contra os drones. Tais
ofensivas também já motivaram rusgas entre os governos do Paquistão e dos EUA.
A delegação inclui meninos supostamente mutilados em ataques por
drones e homens que trouxeram depoimentos de pessoas que teriam presenciado
mortes de civis, entre eles, crianças, nesses ataques. Nenhum desses casos pôde
ser apurado de forma independente pela BBC.
Recrutamento
de suicidas
O que foi confirmado, no entanto, é que o Taleban vem recrutando
e doutrinando meninos adolescentes para atuar como homens-bomba no Paquistão.
Em fevereiro de 2011, eles usaram um jovem de 12 anos para penetrar em uma
fortaleza bem protegida na cidade de Mardan, noroeste do país, e atacar recrutas
do Exército.
Vestindo um uniforme de uma escola situada dentro da área
fortificada, o menino conseguiu passar por vários postos de segurança e detonar
o colete com explosivos que vestia em uma área onde militares faziam exercícios
físicos. Ao menos 30 pessoas morreram.
Três meses depois daquele incidente, a BBC entrevistou outro
menino que teria atuado como homem-bomba mas foi pego pela polícia. Omar Fidai,
de 14 anos, disse que ia participar de um ataque duplo contra um templo sufi na
cidade de Dera Ghazi Khan. Ele ia detonar seu explosivo perto do local onde
equipes de resgate trabalhavam após um atentado por outro homem bomba.
Esse primeiro ataque, feito por outro adolescente, um parceiro
de Omar, matou mais de 40 pessoas. O colete de Omar não explodiu direito e ele
foi ferido, mas sobreviveu.
Ele contou que foi treinado em um campo para homens bomba na
região tribal do Waziristão Norte. Seus mentores o haviam convencido de que,
uma vez que ele matasse os hereges e os infiéis, iria direto para o céu.
Guerra
ao Terror
O relatório de 2012 da ONU registrou 11 incidentes ocorridos em
2011 nos quais meninos adolescentes, alguns com apenas 13 anos, foram usados em
ataques suicidas por grupos armados.
As autoridades paquistanesas dizem que mais de 30 mil civis e 3
mil soldados morreram desde a chamada Guerra ao Terror, iniciada no final de
2001 pelos Estados Unidos, e não se sabe quantos desses foram crianças.
O último relatório das ONU sobre o assunto, divulgado em abril
de 2012, diz que ao menos 57 crianças foram mortas no Paquistão apenas em 2011
- vítimas de explosões de minas terrestres, bombas colocadas em estradas e
ataques. Esse número seria ainda maior se mortes por ataques sectários fossem
incluídas.
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