05/06/2012

Deixando tudo para trás: Quando as cidades modernas se transformam em cidades fantasmas



Em Berlim, pesquisadores de urbanismo estão estudando um fenômeno sinistro: a moderna cidade fantasma. Analisando casos que variam de um resort cipriota deserto a uma novíssima cidade chinesa destituída de habitantes (foto acima), eles estão questionando por que as pessoas abandonam suas comunidades e estão decifrando as histórias que tornam esses locais desertos tão interessantes.

A ilha japonesa de Hashima já foi uma das áreas mais densamente habitadas do mundo. Mas, com o declínio da indústria de carvão, a ilha ficou deserta na década de 70. Agora, os amantes da história gostam de explorá-la na esperança de descobrir os resquícios do centro de mineração que este lugar foi no passado. As ruínas desoladas do assentamento também inspiram cineastas a reproduzir o cenário fantasmagórico nos seus filmes.

Hashima é apenas um exemplo de um conjunto de várias “cidades fantasmas” modernas espalhadas pelo mundo que atraem a atenção de pesquisadores urbanos que inauguraram na última quinta-feira uma exposição sobre o tópico na capital alemã.
Neft Dashlari é um outro exemplo desse fenômeno. Essa cidade, um assentamento artificial na costa do Azerbaijão, foi construída pelos soviéticos após a Segunda Guerra Mundial, quando o Estado se deparava com uma grande carência de petróleo. Tendo encontrado uma grande reserva petrolífera a 42 quilômetros da costa azeri, as autoridades soviéticas decidiram construir uma cidade para acomodar os trabalhadores envolvidos nas perfurações, criar autoestradas e erigir moradias montadas sobre enormes colunas de aço. Mas, atualmente, com as reservas petrolíferas praticamente esgotadas, o assentamento começou a lembrar uma cena de desolação de um filme de ficção científica.

Roupas ainda no varal

No entanto, cidades fantasmas não são apenas resultado da desindustrialização. Erros humanos e conflitos também podem fazer com que uma comunidade definhe. O ex-resort cipriota de Varosha está atualmente abandonado, como resultado da invasão turca em 1974, que fez com que a população inteira fugisse da área. Mesas em casas desertas estão prontas para refeições, e roupas ainda estão penduradas em varais perto das vastas áreas abandonadas à beira da praia.
Acidentes e desastres naturais também fazem com que as pessoas abandonem suas casas. Um incêndio em uma mina subterrânea, que ainda não foi extinto após ter começado na década de 60 em Centralia, no Estado da Pensilvânia, fez com que quase todos os moradores partissem. Somente sete moradores teimosos continuam vivendo lá, sem eletricidade ou qualquer infraestrutura.
Entretanto, as cidades fantasmas não são nenhum fenômeno novo. Em uma das várias ocorrências do gênero, uma mudança climática por volta do ano 1400 teria provocado o abandono da próspera cidade de Angkor, no Camboja, que possuía um avançado sistema de abastecimento de água e mantinha sofisticadas relações internacionais.
Mas talvez ainda mais surpreendente seja a existência de cidades construídas há pouco tempo que se encontram praticamente vazias, como é o caso de Ordos, na China, que foi descrita como “a cidade fantasma mais bem preservada do mundo”. Ordos, uma cidade moderna projetada para abrigar 300 mil pessoas, dotada de iluminação pública alimentada por turbinas eólicas e recém-asfaltada, possui atualmente no máximo 5.600 pessoas, em sua maioria jardineiros e construtores que vieram para usufruir do trabalho sazonal bem remunerado.

Vínculo emocional

Brigitte Schultz, pesquisadora de urbanismo e editora da revista alemã de arquitetura “Bauwelt”, atribui esse fascínio pelas cidades fantasmas a um fenômeno de vínculo emocional, e não intelectual. “Eu creio que as pessoas sentem-se atraídas por tais histórias”, disse ela a “Spiegel Online” na abertura, na quinta-feira, da exposição que mostra fotografias de cidades fantasmas de todo o mundo no Museu de Arquitetura da Universidade Técnica de Berlim.
“A intenção não é que as histórias tenham caráter didático”, explicou Schultz, que também organizou a exposição. “O que elas fazem com frequência é nos lembrar da nossa condição humana. Vejamos, por exemplo, o caso de Centralia. Lá vivem sete pessoas que dizem que o lugar é a sua casa e que não sairão de lá, mesmo que isso signifique viver sem estradas e eletricidade”.
O diretor do museu, Hans-Dieter Nägelke, afirma que a arquitetura representa a “essência de uma pessoa”. Observando a área externa ao museu, onde blocos de grama brotam energicamente das frestas existentes entre os blocos de concreto, ele diz que Berlim lembra certos lugares mostrados na exposição. “Essas cidades fantasmas fazem com que nós questionemos por quanto tempo permaneceremos aqui”, diz ele. “Uma cidade próspera pode transformar-se em uma cidade fantasma mais rapidamente do que nós imaginamos”.

Reportagem de Katherine Ferguson para o jornal alemão Der Spiegel
foto:zevariedades.com

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