30/03/2012

Governo espanhol descarta modificar reforma trabalhista após greve

O governo da Espanha, liderado pelo conservador Mariano Rajoy, descarta modificações significativas na proposta de reforma trabalhista que será enviada ao Parlamento. O projeto ocasionou, nesta quinta-feira (29/03), a primeira greve geral dessa administração. A greve de 24 horas, que foi convocada em conjunto pelos dois principais sindicatos espanhóis - as CCOO (Comissões Operárias) e a UGT (União Geral de Trabalhadores), teve maior incidência na indústria e menos repercussão nos setores de serviços, comércio e setor público.

Segundo o governo, o impacto da paralisação "foi muito moderado", e a atividade econômica foi menos afetada nesta paralisação do que em anteriores, como a de setembro de 2010, convocada também contra uma reforma laboral, mas então aprovada pelo governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero – hoje na oposição.

A avaliação do Executivo foi realizada no fim da tarde pela diretora geral de Política Interna, Cristina Díaz, que baseou seus cálculos em dados como o consumo elétrico ou a incidência no setor público. A greve foi cumprida por 16,71% dos trabalhadores da Administração Geral do Estado, 19,42% nas administrações autônomas (regionais) e 15,24% nas municipais.

Os sindicatos sustentam, no entanto, que o apoio foi em massa, calculado em torno de 77%, embora com distinta incidência segundo os setores. Embora a tônica geral tenha sido de normalidade durante o dia, Cristina informou sobre 176 detenções em diversos incidentes, e também disse que 104 pessoas ficaram feridas, sendo 58 delas agentes de segurança.

A greve teve sua reta final com manifestações nas principais cidades espanholas, nas quais milhares de pessoas expressaram sua rejeição à nova legislação trabalhista, que rege as relações entre empresários e trabalhadores. Ao término da concentração de Barcelona houve duros confrontos entre alguns grupos e agentes antidistúrbios.

Em Madri, no fim da manifestação na praça Porta do Sol, na capital espanhola, o secretário-geral de Comissões Operárias, Ignacio Fernández Toxo, afirmou que "mais de um milhão de pessoas na Catalunha e quase um milhão em Madri" saíram hoje às ruas em defesa "de seus direitos e do modelo social que tanto tempo beneficiou os espanhóis".

Da mesma forma que fez em entrevista coletiva horas antes com o líder da UGT, Cándido Méndez, Toxo voltou a pedir ao governo de Rajoy para que reconsidere sua posição sobre a reforma laboral. "Ainda dá tempo para reconduzir as coisas antes de provocar mais danos", afirmou.

Os sindicatos solicitaram ao Executivo que faça "um sinal" nessa direção antes de 1º de maio, o Dia do Trabalhador. Caso não o recebam, eles advertiram que vão prosseguir com as mobilizações contra a reforma, que consideram que prejudica os trabalhadores por facilitar e baratear as demissões, danificar direitos adquiridos e não contribuir para reforçar a economia. Também a classificam de ineficaz para a geração de empregos em um país que tem 5,2 milhões de desempregados (23% da população ativa).

A resposta do governo ao pedido de modificação da foi dada pela ministra do Emprego, Fátima Báñez, que declarou que a reforma "em sua parte principal" não será alterada, e sustentou que "a agenda da reforma é irreversível". A greve coincidiu com a data simbólica dos primeiros cem dias do governo de Mariano Rajoy, que concentrou suas principais decisões em medidas para reduzir o déficit público com o objetivo de deixá-lo neste ano em 5,3% do PIB (Produto Interno Bruto), como exige a União Europeia.

A atuação do governo da Espanha está sob atenção da UE e também dos mercados financeiros internacionais, que nas últimas semanas aliviaram as fortes pressões que exerciam sobre a dívida espanhola por causa do resgate da Grécia.



foto:afinsophia.wordpress.com

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