O plano de ajuste da coalizão conservadora-liberal democrata tem um
resultado claro e quantificável. Segundo o estudo conjunto de dois respeitados
institutos britânicos, o Family and Parenting Institute (FPI) e o Fiscal Studies
Institute (FSI), a redução de benefícios sociais e o aumento do IVA (Imposto
sobre Valor Agregado, taxa aplicada na União Europeia que incide sobre a despesa
ou o consumo), entre outras medidas, lançará meio milhão de crianças e
adolescentes na pobreza absoluta. A Organização de Cooperação e Desenvolvimento
(OCDE) tem outra maneira de apresentar essa situação: “o Reino Unido é a
sociedade mais desigual das nações ricas”.
O estudo do FPI e do IFS
assinala que a receita média das famílias britânicas com crianças, que diminuiu
4,2% em 2010-2011, seguirá caindo. Em 2015, último ano de governo da coalizão,
esse tipo de famílias experimentará um corte em suas receitas de aproximadamente
dois mil dólares anuais.
O impacto é particularmente marcante para
famílias com três ou mais crianças, meninos de menos de cinco anos e para os que
recebem ajuda para pagar aluguéis privados. “Os cortes vão impactar muito mais
às famílias com filhos que os aposentados e o resto dos trabalhadores”,
assinalou Katherie Rake, do FPI.
Os cortes aprovados pela coalizão em
outubro de 2010 e aprofundados desde então para “lidar com o déficit fiscal” e
“dar tranquilidade e previsibilidade aos mercados financeiros” incluem um
congelamento salarial para os empregados estatais e o fechamento massivo de
serviços sociais, entre eles os clubes juvenis, cuja ausência se fez sentir nos
distúrbios que assolaram a Inglaterra em agosto passado.
O impacto é
especialmente devastador para as famílias mais pobres. A Lei de Pobreza Infantil
de 2010 define a pobreza absoluta como uma renda 60% abaixo da média nacional.
Com base nesta medida, o FPI e o FSI calculam que meio milhão de crianças
ficarão abaixo desta linha: cerca de 300 mil menores de cinco anos.
Em um
comunicado, o governo reconheceu as dificuldades que muitas famílias estão
vivendo, mas assinalou que estão sendo tomadas medidas relativas a esse tema.
“Há medidas para ajudar a estas famílias como o congelamento dos impostos para o
aluguel estatal ou a introdução do imposto universal”, assinala o comunicado.
Segundo o FPI, a maioria destas medidas é apenas um remendo que beneficia alguns
setores ou que só serão implementadas em 2018 como o imposto
universal.
Pior ainda, como o resto dos ajustes na União Europeia (UE), o
britânico comete o pior dos pecados: infligir um sofrimento em vão. Longe de
diminuir, o déficit está crescendo. Ao final de 2011, a dívida total britânica
se incrementou quase um bilhão de libras ou 62,8% do Produto Interno Bruto.
“Como resultado de sua política, o governo teve que endividar-se 158 bilhões de
libras a mais do que o calculado”, assinala Rachel Reeves, porta-voz de temas
fiscais da oposição trabalhista.
Um informe do Center for Economic and
Business Research (CEBR) assinala que o Reino Unido entrará em recessão este ano
e que haverá 3 milhões de desempregados em 2013. Como na famosa frase de
Shakespeare, o draconiano ajuste britânico parece um “conto contado por um
idiota”: a exigência da austeridade está condenando não só o Reino Unido, mas
também os países da eurozona a um escasso crescimento econômico e a um maior
déficit fiscal. “Os países impõem a austeridade exigida pelos mercados
financeiros que, por sua, logo castigam os países e os criticam porque a
economia não cresce como resultado da austeridade”, disse Jenni Russell,
comentarista do conservador vespertino Evening Standard.
Nos últimos
quatro anos, o nível de vida dos britânicos caiu cerca de 28%, a pior diminuição
desde o pós-guerra. Como era de se esperar isso não está acontecendo de maneira
igualitária. Segundo a OCDE, o Reino Unido tem o nível de desigualdade mais alto
entre os países considerados ricos que fazem parte da organização. Os 10% com
mais renda ganham hoje 12 vezes mais que os 10% com menos renda: em 1985, essa
proporção era de oito para um. A diferença se torna ainda mais abismal quando se
olha para os milionários. O 1% com mais renda, que tinha 7,1% da torta em 1970,
passou a ter 14,3% em 2005.
Esta crescente desigualdade se dá em todo os
países da OCDE, ainda que não na alarmante proporção verificada no Reino Unido.
No mundo em desenvolvimento tampouco há muito para celebrar. Segundo o mesmo
informe, no Brasil e no resto dos países do BRIC (China, Rússia e Índia) a
desigualdade é de 50 para 1. O secretário geral da organização, Angel Gurría,
reconheceu que as coisas melhoraram com os programas sociais do presidente Lula,
mas indicou que, apesar disso, “a desigualdade segue sendo cinco vezes mais alta
que nos países desenvolvidos”.
Reportagem de Marcelo Justo
Tradução: Katarina Peixoto
Tradução: Katarina Peixoto
fonte:http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19397&boletim_id=1107&componente_id=17591
foto:blogln.ning.com
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