20/09/2011

Estado Palestino: ameaças de Israel causam desconforto até nos EUA

Um assunto muito importante e atual. O Ética para Paz não poderia ficar fora da discussão. Abaixo uma reportagem que pode esclarecer alguns pontos do panorama geral.




Hoje, quando a Assembleia Geral da ONU que poderá aprovar a criação de um Estado Palestino independente, dois dos principais apoiadores de Israel — Estados Unidos e Grã Bretanha — incomodaram-se com a radicalização e ameaças crescentes disparadas por seu aliado. Diplomatas norte-americanos e britânicos alertaram Telavive, segundo o diário londrino The Guardian que tal atitude poderá provocar isolamento ainda maior dos que se opõem à reivindicação palestina.
A reação seguiu-se a declarações fortemente agressivas de governantes israelenses — principalmente os ligados à extrema direita. Os ministros das Relações Exteriores (Avigdor Lieberman) e Finanças (Yuval Steinitz) sugeriram sequestrar fundos fiscais arrecadados por Israel em nome da Autoridade Palestina. Outras autoridades chegaram a propor a anexação formal, por Telavive, das regiões da Palestina onde estão instaladas colônias de ocupação ilegais — em geral, habitadas por fundamentalistas judeus. Ouvido pelo jornal, o diplomata palestino Nabil Shaat, afirmou que tais atitudes não abalarão o pedido de reconhecimento: “Não estamos dispostos a trocar direitos por dinheiro”.
Enquanto isso, a agência de notícias britânica BBC divulgou os resultados de uma pesquisa de opinião pública realizada em 17 países, a respeito do Estado Palestino. Entre os entrevistados, 49% defenderam sua criação e reconhecimento pela ONU; apenas 29% manifestaram-se contra. Segundo a BBC, há maioria pró-palestinos inclusive nos Estados Unidos (45% x 36%) — o que torna ainda mais ilegítimas as iniciativas da Casa Branca contra o voto pró-independência na ONU.

Como os EUA querem bloquear o Estado Palestino

Sob forte pressão interna do lobby promovido pela direita israelense, o governo norte-americano teria antecipado que vetará, no Conselho de Segurança da ONU, qualquer proposta de reconhecimento geral da independência palestina. Trata-se, contudo, de uma posição incômoda. A vitória, na Assembleia Geral, de uma resolução em favor de autonomia é dada como certa. Quanto mais vasta for a maioria, mais delicada será a situação de Washington — em especial, num momento de ampla mobilização popular no mundo árabe e de desgaste dos governos aliados aos EUA no Oriente Médio.
A diplomacia norte-americana teria duas cartas na manga — ambas de força duvidosa. Primeira: tentar convencer a Autoridade Palestina (dirigida por Mahmoud Abbas, do movimento Fatah) a desistir da votação na ONU, oferecendo-lhe alguma perespectiva de paz. Segunda: tentar reduzir ao máximo a margem de votos em favor de uma resolução pró-independência, para amenizar o desgaste de um veto. Ambas estrategias estão sendo executadas neste exato momento.

Para tentar dissuadir os palestinos, Washington mobilizou o “Quarteto” — um grupo de interlocutores formado (em 2002) pelos próprios EUA, União Europeia, Rússia e ONU, para facilitar contatos entre palestinos e israelenses. A aposta é apresentar, em curtíssimo prazo, alguma perspectiva crível de retomada nas negociações de paz. O ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, uma espécie de embaixador informal do grupo, esteve em Israel na semana passada, para sondar o governo do primeiro-ministro Benyamin Netanyahu (na foto, de outubro de 2010, com Hillary Clinton) sobre o espaço para tal gesto. Os repórteres do NYTimes, porém, são céticos. Lembram que a coalizão no poder em Tel-Aviv persegue objetivos opostos: entre eles, obter, em foros internacionais, o reconhecimento de Israel como “estado judeu” — o que afronta, além de um dos princípios das repúblicas modernas (a laicidade do Estado), a numerosa minoria árabe que vive em território israelense.
Para o “plano B” (evitar que a maioria pró-palestina seja avassaladora), os EUA dispararam, a partir de agosto, mensagens diplomáticas para mais de 70 países. Alegam que um voto de reconhecimento da independência, na ONU, seria “passo unilateral”, que provocaria desestabilização ainda maior no Oriente Médio. Mesmo esta tentativa, lembram os repórteres, tende a se esvaziar, caso Washington não formule alternativa convincente.
E mais: o próprio poder de veto dos EUA é limitado. O Conselho de Segurança não poderá, por exemplo, evitar que a Assembleia Geral da ONU eleve o status da representação palestina. Ele passaria de “entidade observadora sem direito a voto”  para “Estado observador sem direito a voto”. Esta mudança seria suficiente para que a Autoridade Palestina tenha acesso a dezenas de grupos de trabalho e convenções da ONU — podendo, inclusive, abrir processos contra Israel na Corte Penal Internacional.
Afrontados por anos “negociações de paz” meramente protelatórias, em que a arrogância de Israel somava-se à indiferença dos EUA e do “Quarteto”, os palestinos parecem cada vez mais dispostos a recorrer à ONU. “Qualquer que seja a ofereta [de Washington], agora é tarde demais, afirmou aos repórteres, de Ramallah, Nabil Shaath, um vetereno diplomata palestino.



fonte: http://rede.outraspalavras.net/pontodecultura/2011/09/06/como-os-eua-querem-bloquear-o-estado-palestino/
foto:joanisval.com

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